terça-feira, 15 de março de 2011

Ela sabia que ele viria e num momento tratou de se arrumar. Colocou seu melhor vestido e quase desmaiou de emoção, nunca estivera tão bela. Sairia em fim com seu amor, quebrando barreiras e seria enfim uma mulher quase perfeita.
Ele, por sua vez, perfumou-se e pensou que casaria, tamanha a sua ansiedade por encontrá-la. Não sabia qual roupa colocar, mas naquela mesma hora não se fez de rogado, pegou a primeira roupa bonita que viu no armário. Arrumara-se. Nunca tinha se visto tão belo e perfumado, limpo e contente, feliz por amar.
Na cidade pequena não se encontrariam tão facilmente, mas agora haviam assumido o que antes era negado, era escondido, o amor de um homem mais velho por uma moça recém saída da juventude. Eles se gostavam, mas os moradores da pequena cidade não aceitavam, “Aonde já se viu uma criaturinha como aquela ser toda daquela criaturona?”.
Marcada a hora, ambos saem de suas casas e pelas ruas caminham quase que saltitantes, dando espaço e correndo para que o sonho se realizasse.
Pessoas olhavam. “Será que teriam coragem?”. “Quem é aquele moço? Nunca vira pela cidade”. Mas mal sabiam as moças que ali ele sempre estivera, sozinho, procurando alguém como ela e ela procurando alguém como ele.
A moça despertava atenção. Os homens não a reconheciam e do mesmo modo se indagavam. “Teria ela coragem?”. “Quem ela pensava que era?”. Mas ela nada pensava, somente andava, os pés flutuando no chão de terra e o sapatinho novo desbotara tamanho eram os passos apressados e ávidos por encontrá-lo.
Passou batom? – Nossa!!Como esquecera? – Parou um instante e sem que houvesse um espelho, imaginou o contorno dos lábios e o batom sem nunca estrear, vermelho fosco, deslizou naqueles que em breve se desvirginariam. Seguiu em frente, e ele também.
O local, a praça, aquela hora tranquila. O local exato, o banco. O que falariam? – “Não sei” – pensou ela – “Talvez do dia”. E ele – “Não sei, talvez da noite”. “E se ele não me quiser?” – ela pensou. E ele – “E se ela me achar um tonto? E agora o que eu faço?”.
Hesitaram um instante, pensando o que falar, pois nunca trocaram palavras e sim somente olhares e as faíscas de um amor que somente os dois compreendiam, somente os dois sabiam o quanto.
Os passos já não eram tão apressados, afinal, ambos estavam apreensivos – “Quem ela seria?” - pensou ele e ela – “Quem será que amara?”.
Mas da caminhada não desistiram, mas a timidez já ruborizava suas faces. O homem quis pegar a flor, talvez um bom começo, e ela quis parar e imaginar como seria.
No caminho curto ambos amadureceram uma vida e o amor, há tempos sentido, nessa andança ansiosa foi-se concretizando. Eles já não se aguentando, se encontram, olharam-se, os olhos brilhantes, o suor do cansaço, mas muito mais da ansiedade, se fez e os dois com sorrisos tímidos se perceberam como amantes.  E naquele momento, sob o olhar dos curiosos, ninguém mais os dois viram e nenhum ruído se escutava, nem mesmo o balanço das árvores com a brisa que se sentia.
Naquele momento os dois giravam, a cabeça longe, ninguém, silêncio, amor, corações palpitando tanto que as mãos foram ficando tremulas, olhares fixos, o silêncio, somente a respiração e ele abrindo vagarosamente os lábios e dizendo, quase ao mesmo tempo que ela , como um grito guardado, abafado há tempos:
-Eu te amo!

E assim a felicidade se fez em lágrimas que anos mais tarde ambos ainda sentem vivas em seus corações todas as vezes que na varanda de sua casa, em frente à praça que se encontraram, esperam junto com os netos a noite chegar, cobrindo a claridade e a imensidão do dia.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Caridosa anciã paulistana

Praça da Sé - 1916

Por Ana Paula Rego

Idosa que não perde o charme, a ostentação. Consoladora, pois abraça crianças judiadas, pobres, carentes, além de desempregados e pessoas sem rumo que procuram os seus braços para pensar, pois apesar de velha ela ouve, diariamente, o lamento de homens e mulheres que almejam um futuro melhor em uma cidade como São Paulo. Presenciou o avanço da modernidade e parece se adaptar muito bem a essas grandes mudanças.

Essa anciã nasceu por volta de 1588 e hoje a conhecemos pelo nome de "Praça da Sé". Tornou-se um dos pontos turísticos da "terra da garoa". Abriga o marco zero do município e foi palco de inúmeros eventos religiosos e políticos, sendo um dos mais conhecidos o histórico comício das "Diretas Já", ocorrida em 25 de Janeiro de 1984, do qual mais de 300 mil pessoas  lutavam por eleições diretas para a presidência do país.

Outrora conhecida como "Largo da Sé", ela foi se desenvolvendo a partir da criação, no período colonial, da atual Catedral, aliás, a palavra Sé é uma abreviatura de “Sedes Episcopalis”, uma estrutura de poder da igreja Católica que costuma estar associada a uma igreja ou catedral.

Apesar de hoje em dia, essa elegante senhora, não vislumbrar mais os bondes e os senhores de terno, gravata, chapéu e bengala de tempos antigos, fica difícil não imaginar, passeando pelos seus ladrilhos já desgastados com o tempo, épocas em que as crianças, que hoje embala, eram simples crianças, felizes, vivendo como se deve viver e adultos almejando a cultura e o prazer das prosas nas horas de lazer.

Essa que hoje tem, literalmente, aos seus pés a tecnologia de trazer e levar para longe de si pessoas atarefadas e apresadas pelo estafante trabalho moderno, há de vivenciar mais e mais acontecimentos e que não perca a alegria de acolher os frutos deste sofrido século.


quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Parto

Thomas Mann

"O escritor é um homem que mais do que qualquer outro tem dificuldade para escrever"
( Thomas Mann )

Não me parece que Thomas Mann tenha tido problemas para escrever. Seus maravilhosos escritos como “A Montanha Mágica”, “A Morte em Veneza” e tantos outros livros dele demonstram sabedoria e criatividade para desenvolver histórias densas, porém envolventes.
A frase acima me alivia porque vejo que até os mestres tiveram dificuldades para iniciar um texto, pois eu, diante da página em branco, muitas vezes me vi sem ideias de como começar. Quase sempre há uma ansiedade por escrever, mas as palavras não aparecem.  Travo diante da brancura, do vazio.
Quando o desconforto é grande, levanto, dou uma volta pela redação, leio alguma notícia na internet, saio da sala. Ás vezes dá certo é as frases começam a despontar, noutras ainda é preciso pensar mais, me concentrar.
Já aconteceu de no meio do texto fugir as palavras e eu ter que parar, por alguns instantes, e pensar qual rumo dar a matéria, quais fontes precisam ainda ser ouvidas, o que falta para ser apurado.
Sempre ouvi dizer, de professores e até escritores, que escrever é um parto, doloroso por sinal. Pode demorar horas ou dias para que o texto saia, bonitinho, e você passe a admirá-lo.


terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Destituídos de Preconceito

Em qualquer área profissional a palavra preconceito não deveria existir, aliás, isso não deveria existir nunca e em nenhum lugar. Focando na área de comunicação e, mais especificamente, no jornalismo esse pré – conceito é inválido. Digo isso porque para ser jornalista é preciso ter a mente aberta para qualquer assunto e conhecer de tudo um pouco.
Na pós-graduação aprendi, com mais ênfase, a ser uma profissional livre para abranger qualquer assunto e a ler qualquer tipo de livro ou texto que chegasse até mim.  Meu querido professor Sérgio Villas Boas dizia que até mesmo a leitura de livros simples era de suma importância. Não importava que tipo de literatura a pessoa lesse, o importante era ter o livro e aproveitar as histórias. Lembro-me também do Edvaldo Pereira Lima e do Celso Falaschi dizendo sobre a humanização dos personagens nas matérias de jornalismo literário. É preciso conhecer profundamente o ser humano e para isso o jornalista precisa ser destituído de preconceitos.
Hoje em dia sei que é difícil andar pelas ruas olhando para as pessoas que estão passando ao seu lado. Muito mais difícil é puxar conversa com quem senta ao seu lado no ônibus ou quem está na fila, na sua frente, seja no banco ou em qualquer lugar, mas é interessante notar os costumes e o modo das pessoas sejam elas diferentes ou não, de nós.
Há muitas matérias que eu adoraria fazer. Não só pela incessante curiosidade, própria do jornalista, de conhecer as coisas, mas também pelo preconceito que algumas pessoas têm em relação a determinados assuntos. Gostaria de escrever, e ir a campo entrevistar e pesquisar sobre prostituição, a vida nos presídios e manicômios, a rotina dos meninos de rua e mendigos e tantos outros temas que irão me fazer crescer não só profissionalmente, mas me proporcionarão conhecimento e destreza para discernir o ser humano em todas as facetas de sua existência.