quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

É difícil vê-lo como um adulto - Parte 2

Enquanto estamos no ponto de ônibus posso observá-lo melhor. Percebo que seus olhos não param estão sempre alerta. Sua boca dificilmente se fecha devido aos dentes grandes que possui na parte frontal, pode ser por isso e também um pouco pela sua deficiência intelectual que às vezes fica difícil entender o que diz, mas isso não impede de conversarmos e de Tchou já ter feito, sem saber, eu me emocionar com suas atitudes e histórias ingênuas de uma criança que somente cresceu em tamanho.
Lembro-me de que quando eu era criança, Tchou e seu irmão gêmeo Edílson estudavam em uma escola pública que tinha salas especiais para alunos deficientes. Estava sentada na calçada quando ele me perguntou se eu poderia ensiná-lo a resolver umas contas de matemática. Eram continhas simples de subtração, soma, multiplicação e divisão, mas com o seu caderno em mãos, páginas em branco devido à dificuldade de compreender aqueles números, eu tentei ajudá-lo. Suas limitações eram tão grandes que não consegui, eu não tinha esse dom, como poderia?
Outra história que me emocionou muito. Tchou tem vários sobrinhos, mas o mais novo dentre os homens é uma criança que se tornou o seu companheiro nas horas de sair para o shopping. Outro dia ambos foram a uma loja de brinquedos, ficaram brincando com um carrinho de controle remoto e Tchou só não o comprou, pois, segundo ele, era muito caro e estava sem dinheiro, mas parece que por um bom tempo aquilo virou o sonho de consumo dele.
Por falar em carros há uma coisa que Tchou adora: trânsito, isso mesmo, trânsito. Em sua cabeça ingênua ele gosta de ver a quantidade de carros parados, os movimentos lentos, o caos. O que para nós faria perder a cabeça, para ele é motivo de alegria.

-         Às vezes eu “tô” na sala assistindo TV aí eu escuto os carros subindo a rua. Eu conto ... 1,2,3....até 10, quando chega no 10 eu sei que é trânsito então saio no portão para ver – me conta entusiasmado.

Tchou não se esquece de uma vez, de quando precisava pegar ônibus de manhã para ir trabalhar e estava um trânsito infernal. Nada andava. Todos os passageiros desceram e preferiram ir andando. Ficou somente ele dentro do ônibus junto com o motorista e o cobrador esperando pacientemente, durante horas, o trânsito se desfazer.


Leia aqui "É difícil vê-lo como um adulto" - Parte 1

5 comentários:

  1. ...tenho certeza que sua alma
    já aprendeu muito com ele,
    não é?

    às vezes Deus coloca anjos
    disfarçados entre nós,
    e estes existem somente
    para nos ensinar o quão
    frágeis somos diante
    da vida!

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  2. O Tchou parece ter muito mais paciência que eu, que sou limitada com a falta dela para esperar as coisas...

    ;-)

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  3. Como é complicado ver as coisas sob outra perspectiva. Ter tempo, ser paciente. Mto bom, Ana! Beijos!

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  4. Uma pessoa como eu, supostamente "normal", estou anos-luz atrás da paciência e da generosidade do Tchou.

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  5. Olá, amigos
    Tê-lo por perto é muito bom, pois nos faz acreditar na bondade e na ingenuidade das pessoas.

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