quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

A arte de sujar os sapatos


Andar por entre as ruas e descobrir coisas novas, além de personagens que vão enriquecer a sua matéria, é algo extremamente recompensador para um jornalista. Sair da redação para escrever sobre o real é um trabalho que deveria ser feito por muitos profissionais da área.
Lembro-me da primeira vez que tive que sair em busca de informações. Estava na faculdade e as matérias eram para o TCC (Trabalho de Conclusão de Curso) que, no meu caso, se tratava de uma revista chamada “Nova Realidade”. A matéria principal era sobre o trabalho rural, então lá fui eu para uma cidadezinha do interior de São Paulo chamada Santo Antonio de Posse. Minha pauta dizia que eu deveria conversar com trabalhadores rurais de uma fazenda que transformava cana de açúcar em cachaça e outros derivados.
Auxiliada pelos meus tios, que moravam na cidade e conheciam a região, eles me levaram de carro até as plantações de cana. Andamos boas horas por entre as estradinhas de terra em busca da sede da fazenda e dos trabalhadores.
Andei, procurei, esperei. Os homens humildes chegavam aos poucos em cima dos caminhões abarrotados de cana cortada. Enquanto descarregavam a mercadoria eu ia me enturmando e tentando conversar. Alguns não queriam papo, mas percebi que estavam cansados. Apesar de ser mais ou menos umas 10h da manhã eles já estavam trabalhando há horas, deviam estar com fome e, para piorar, fazia muito calor naquele dia.
Os caseiros da fazenda moravam em uma simples casinha ao lado da sede. Próximo também estava um enorme lago que cheirava mal. Soube, depois de muita conversa, que aquele lago na verdade era um depósito dos bagaços da cana que, como não eram aproveitados, iam sendo jogados naquele espaço.
Ao voltar para casa e organizar o material adquirido nessa “ida a campo”, percebi que saí dessa experiência muito mais madura e preparada não só para a minha profissão, mas também para a vida. Ao lidarmos com situações diferentes da nossa aprendemos muito mais do que nas salas de aula da faculdade. A redação é importante, claro, mas a arte de sujar os sapatos em busca da notícia é muito mais prazerosa e envolvente.

6 comentários:

  1. Ana,

    Adorei o texto, pois mostra para as pessoas que não conhecem a nossa profissão que sair à campo é fascinante, e não complicado e chato como muitas pessoas acreditam.
    O melhor ainda é perceber que a prática nos traz ainda mais aprendizado e amadurecimento.

    Parabéns.

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  2. Lugar de repórter é na rua. Telefone, google, e-mails, redes sociais e outros aparatos tecnologicos facilitam, mas não podem substituir as impressões do repórter, o cheiro, o ambiente, o olho no olho com a fonte.
    Ótimo texto Aninha.
    Ricardo Moreira

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  3. Olá, Ana. Que proposta pertinente.
    As vezes, precisamos até mesmo, ficar descalços.
    A recompensa costuma ser boa.

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  4. Quanto buraco de rua cobri, rss.

    E não tenho saudades...

    http://vemcaluisa.blogspot.com/

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  5. Ana, vcs devem passar por experiências e tanto!
    Adorei! Continue assim cheia de garra!
    Beijos!

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  6. Não se come um omelete sem quebrar a casca. Entrar na profissão é isso mesmo, enfiar a mão na massa, seja que tipo de massa for.

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